temos jornalismo de qualidade, mas não nas redes | balanço workshop COM+USP
qualidade das notícias nas redes sociais é questionada por esforço das redações em agradarem algoritmos
🗣️ hoje a /minuta chegando em pleno o ‘sextou’, como muitas outras que leio.
📌 o que tem aqui: divido conexões que fiz após a discussão e participação no workshop “Plataformização e o Jornalismo Digital Contemporâneo: conteúdos, processos platform beat e aspectos regulatórios”, na semana passada (23 a 25 de agosto).
📍 o que foi: a atividade é parte do pós-doc da minha orientadora, Suzana Barbosa. ela me convidou para falar sobre minha pesquisa para o grupo. quase 50 pessoas estiveram acompanhando e o grupo COM+, da ECA-USP e sob coordenação da prof.ª Beth Saad, foi quem organizou.
“o mundo gira, o mundo dá voltas”. chegaram até a duvidar, mas não tem jeito, esse aspecto ciclo está em toda parte. e está aí um movimento que eu acho sempre que pesquisadores que estudam o jornalismo digital precisam fazer. questionar-se.
isso é completamente novo? não tem mesmo nada parecido antes? ok, é novo, mas é bom?
hoje eu vou trazer aqui links e insights da minha participação no workshop “Plataformização e o Jornalismo Digital Contemporâneo” – falei sobre minha pesquisa. mas antes eu quero contar um causo que eu lembrei ao ouvir por lá algo similar ao que inspirou o título desta edição.
eu trabalhe eu um jornal em Salvador que flertava ali entre os públicos de classe média e classe média baixa. o chamado “mercado leitor”, o setor responsável pela distribuição e venda dos jornais, aqueles de papel mesmo, sempre foi conhecido por sua criatividade e realização de muitas ações. uma delas, polêmica, era que vez ou outra a mesma edição do jornal tinha mais de uma capa. uma mais “limpinha” para exibir no site, ir para as vitrines dos supermercados e bancas de revista do centro da cidade e outra mais popularesca, às vezes até suja um tico de sangue… vocês sabem o que eu estou falando. essa última era vendida em bairros periféricos, nos ônibus, na quitanda do seu Jurandir. vez ou outra, a capa popularesca furava a bolha, ia parar no Facebook e no Twitter com textões e acusações de mau jornalismo. lembrando e escrevendo isso agora são muitos os sentimentos nostálgicos que me vêm, mas encerro aqui esse nariz de cera, que espero que faça sentido para você.
nos dois primeiros dias do evento, que teve uma audiência e uma discussão super qualificada, duas participantes distintas levantaram a bola para o mesmo aspecto: jornalismo de qualidade ainda existe nos “quality papers”, nessas publicações da imprensa comercial. você encontra nas versões impressas e digitalizadas, você acha nos sites, mas nas redes sociais a maioria é post caça-clique, sensacionalismo, um horror! uma das jornalistas que comentou isso, que pesquisou a Folha e hoje mora em Portugal (perdão, não registrei os nomes), chegou a dizer que tinha vergonha de mostrar para seus alunos que foi aquele veículo e seu manual de redação que ela pesquisou um dia – isso justamente por conta das postagens da Folha nas redes. eu acho que as d’O Globo são piores rs
vocês já sacaram aonde eu quero chegar, né? mas vou listar:
as redes parecem hoje a periferia do consumo de jornalismo, não economicamente falando, mas em relação ao que ganha destaque por lá, o que “rende”, para onde um conteúdo de menor qualidade é feito e impulsionado, “menos jornalístico” até, mas como maior apelo e unicamente como uma estratégia de segmentação de público, que engaja com determinadas postagens/capas e não outras.
é claro que a culpa nem sempre é da embalagem, assim como é reducionista qualificar o jornalismo de uma empresa unicamente por sua primeira página ou por aquela outra página, a do Instagram.
no evento também rolou contribuição para minha pesquisa no sentido de, ao pensar em jornalistas que de algum modo lidam com as redes sociais, distinguir quem cobre de quem trabalha como editor de mídia sociais… e foi aí que pensei: social media de jornal é hoje o antigo “mercado leitor”, não é? cumprem a mesma função. diferença é que antes, ao que me parece, esse era um setor muito mais próximo do marketing, tinha ali profissionais da logística e da administração, hoje são em maior número
(dataeu)jornalistas com conhecimento de tráfego e viralização.
faz sentido? me contem…
vou deixar aqui o link da apresentação que exibi no curso
→ apresentação para workshop COM+ | platform beat
a minha ideia foi, a partir de uma série de exemplos de reportagens recentes, a maioria do último mês, demonstrar como a ideia de cobertura de plataforma não é algo distante, que não está relacionado só com jornalistas programadores ou com assuntos distantes, mas que tem relação com 1) aspectos muito próximo da vida das pessoas, como a possibilidade de escassez de água; 2) está diretamente relacionado com fiscalizar o poder (e não faltam exemplos de como as plataformas o exerce globalmente hoje).
levantamento rápido mostra desafios na apuração que envolve as plataformas
nesse mesmo sentido, propomos uma atividade com os participantes para que lessem reportagens que ilustram a ideia da cobertura das plataformas – casos também recentes, para capturar o jornalismo cotidiano, do dia a dia, não somente os especiais. pedimos para que opinassem através de um formulário com questões abertas e fechadas.
👥 perfil de quem respondeu: foram 15 respostas, 73% com graduação em Jornalismo, principalmente acadêmicos: (doutorandos, mestrando e professores de jornalismo com mais de 10 anos de jornalismo).
📈 visão média a partir da leitura das reportagens de exemplo que demos: as reportagens utilizam métodos satisfatórios e adequados de apuração, porém não são necessariamente inovadoras nesse aspecto. 66% das respostas indicam que é possível identificar dificuldades para apurar. não têm como marca serem muito objetivas, mas também não são contundentes em atribuir de quem é a responsabilidade dos problemas que levantam. são medíocre na capacidade de explicar os mecanismos e funcionamentos das plataformas para um público médio, mas conseguem ter um desempenho um pouco melhor ao explicar os impactos sociais relacionados às atividades das plataformas.
→ um link em especial dessa lista acima seguido de um resumo. é da newsletter Platformer
Para a maioria de vocês, percebo, não é mais novidade que Musk estica a verdade até que ela se desintegre. [...] Ao mesmo tempo, faz parte da natureza do jornalismo empresarial assumir que os CEO das empresas não mentem o tempo todo. [...] Dado o domínio que ele exerce sobre a imaginação popular, essas matérias do tipo “Musk diz” provavelmente não desaparecerão tão cedo. Mas se matérias do tipo “Musk diz” vão existir, elas deveriam ser muito mais céticas do que as que temos visto ultimamente.
Casey Newton
LI E GOSTEI NOS ÚLTIMOS DIAS E RECOMENDO
estou fazendo leituras mais sobre metodologia e comunidade interpretativa no jornalismo
📝 News place-making: applying ‘mental mapping’ to explore the journalistic interpretive community como a geografia territorial é discutida nas notícias? como os jornalistas caracterizam bairros? como os jornalistas constroem uma noção de lugar em suas produções, ilustrado a partir de aspectos racializados de regiões e bairros considerados negros e brancos, tranquilos ou violentos? essa pesquisa entrevistou 30 pessoas (repórteres de três jornais, funcionários públicos e residentes de Iowa City - uma região estigmatizada). eles foram provocados a desenhar mapas que considerassem divisões importantes para as reportagens. achei curiosa a metodologia e o aspecto participativo, para o autor, é uma “tentativa de diminuir o diferencial de poder entre pesquisador e pesquisado”. muito interessante e com ótimas provocações.
📝 Entrevista a Barbie Zelizer. Por Rita Figueiras (2014) para a revista acadêmica Comunicação & Cultura, 17, 105–111. (neste link tem o pdf com as marcações e destaques que fiz). inclusive, achei e estou lendo a tese de Zelizer de, que também virou livro, mas o arquivo original da tese tem apêndice metodológico, é free e tem OCR pra um arquivo recuperado de 1990, então, tem que valorizar esse repositório)
📅 PRÓXIMA EDIÇÃO
dia 15, como combinamos agora sempre nos dias 1º e 15 do mês. acredito o tema será sobre estrutura/texto de teses - mas a ver.
⚙️ ÁUDIO
esses dias está difícil para gravar a versão em áudio, demanda mais tempo, mas quero voltar!